Encontro Nacional

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terça-feira, 23 de setembro de 2014

Todos e Nenhum

Um dos estudos que fazemos em Filosofia Clínica diz respeito a  quantificação das proposições, ou seja, a quanto se refere a proposição que é formulada. Para ilustrar as possibilidades quantitativas das questões vou usar frases de grandes filósofos. O primeiro é Sócrates, com sua célebre frase: “Só sei que nada sei!” Esta pequena frase diz respeito a um indivíduo somente: ele. Por falar somente dele é singular, ou seja, trata de apenas um sujeito. Outro modo de dizer é como George Santayana: “Aqueles que não conseguem lembrar do passado estão condenados a repeti-lo”. Nesta frase, George destaca um grupo de pessoas do todo, tornando sua afirmação válida somente à um grupo de pessoas. Quando essa situação acontece, dizemos que o autor usou uma sentença particular, direcionada apenas ao grupo de pessoas que não conseguem lembrar do passado. Pode se dizer ainda, como na frase de Nietzsche: “O homem precisa daquilo que em si há de pior se pretende alcançar o que nele existe de melhor”. Esta citação não restringe a quantidade de sujeitos à que ela se refere, mas abre para todos. Formulada desta maneira, as frases que não tem a definição de um sujeito singular ou particular, ela é considerada universal.
Só a introdução da conversa com os autores já é bastante interessante e acho prudente afirmar que o que Sócrates, Santayana e Nietzsche disseram é assim para eles. Um filósofo usou um termo singular, outro particular e por fim um universal. Vamos pensar um pouco nos problemas que podem advir das universalizações. Quando estou conversando com uma pessoa e ela me diz que ninguém gosta dela, automaticamente percebo que ela utilizou um termo universal, não restringiu o sujeito. Os mais atentos podem dizer que a menina afirmou isto por força de expressão e que há alguém que gosta dela. Nem sempre é assim, algumas pessoas quando dizem que ninguém as ama, elas acham mesmo que isto é verdade e sofrem muito por isso. Este é um dos tantos casos de generalização que encontro no cotidiano. Pense no seu amigo que diz: “Na minha empresa tudo está dando errado”. Para ele isso realmente pode ser verdade, por mais que você não veja, é assim que a pessoa vê.
Para sabermos se uma pessoa tem tendência a universalizar basta perceber algumas palavras e/ou expressões como “sempre”, “nunca”, “toda vida”, “todos”, “ninguém”, etc. Percebendo o uso deste tipo de expressão ou palavra já é um bom início, mas ela por si só não quer dizer nada. Devemos observar ainda a que conteúdos estas afirmativas se relacionam. Em alguns casos, podem ser com questões ligadas ao mundo. Uma das mais simples é assim: “A natureza fez o homem feliz e bom, mas a sociedade deprava-o e torna-o miserável”, segundo a visão de Sartre. Esse exemplo mostra que Sartre usou um termo universal ligado a ideia de homem, é como ele vê o mundo. As universalizações podem se dar de diversas maneiras e, prestando um pouco de atenção a quem convive conosco, podemos entender um pouco melhor o porquê de suas atitudes.

Rosemiro A. Sefstrom

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