Encontro Nacional

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quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Tudo é remédio!

Numa das aulas de Filosofia Clínica, um dos alunos perguntou se um filósofo clínico pode receitar medicamentos. O professor disse que não e que aos filósofos clínicos é vetada a possibilidade de medicar.  Também foi perguntado se a Filosofia Clínica é a favor do placebo, ou seja, de se dar um medicamento que não contém o princípio ativo, um comprimido de farinha. O professor disse à turma que tudo é medicamento, ou seja, qualquer que seja a composição do que está sendo prescrito é fármaco. Tanto um quando o outro tem efeitos colaterais, agem dentro da proposta caso sejam aplicados da maneira correta e inclusive, curam.
Segundo o conceito dos dicionários, fármaco vem de uma palavra grega phárn, que tanto serve para designar veneno quanto remédio. Segundo o conhecimento atual, um fármaco é composto de estrutura química bem definida com propriedades medicinais. Há ainda o problema de definição se pensado no conceito vindo da língua inglesa drug, que era a nomenclatura utilizada para dar sentido às drogas lícitas. Nos últimos anos, essa nomenclatura ficou como forma de nomear as drogas ilícitas e fármaco para compostos que tenham fins medicinais.
Já o placebo é uma palavra que deriva do latim placere, com um significado de agradarei. Para a medicina o placebo é entendido como um fármaco ou procedimento sem sentido clínico, que apresenta efeitos fisiológicos em virtude da crença do paciente. O efeito placebo é muito utilizado no teste de novos medicamentos, pesquisas nas quais uma série de pessoas escolhidas consumirá o novo medicamento. Entre estas pessoas existe uma porcentagem que estará consumindo placebo, somente assim os pesquisadores conseguirão medir a eficácia do novo medicamento.
Então, segundo os conceitos acima, tanto o fármaco quando o placebo tem efeito fisiológico. Mas muito mais do que isso é a real questão: muitos medicamentos e os chamados placebos têm efeito psicológico. Muitas pessoas que procuram hospitais, clínicas e terapias, precisam do medicamento, mas não pelo composto que tem naquelas pílulas e sim pelo que elas representam. Como pessoas que passaram por momentos muito difíceis, e, quando medicadas o medicamento não é um composto químico, mas o símbolo de acreditar em si mesma. Algumas pessoas dizem a si mesmas com os medicamentos: “Eu vou conseguir”. O medicamento diz a ela o que nenhum terapeuta conseguiria garantir, ou seja, sua melhora.
O entendimento da Filosofia Clínica é que tudo é remédio, o nome é apenas uma maneira de diferenciar um artifício “não científico”. Pergunte-se: se você chegar em casa hoje, abrir a garrafa de um bom vinho, sentar-se na sala com a esposa e degustar demoradamente o vinho enquanto diz que a ama, isso é placebo ou remédio? Se ao fazer isso você começa a remediar o relacionamento que estava já adoecido, parece que um bom vinho e a conversa são remédios. Se depois de algumas seções com o terapeuta ele prescreve boa música, bons filmes, segundo o que o terapeuta conhece de seu partilhante, este é o remédio de que precisa.
Se o entendimento da vida for mais amplo, pode-se perceber que um bom café da manhã é um remédio contra vários males. Será possível entender que a varinha que a mãe tinha atrás da porta não era placebo, era um remédio na educação dos filhos. Abrir os olhos ao que faz bem e usar disso pode ser a maneira mais eficaz e sem contra indicação de se medicar. Para alguns, por exemplo, o exercício do perdão é o remédio que falta para ter uma vida melhor.
Rosemiro A. Sefstrom

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