Encontro Nacional

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quinta-feira, 22 de maio de 2014

Eu em uma frase!

Minha mãe dizia: “Abra o olho e ache o ladrão”. Essa é uma frase que se encontra no filme Ray, obra que conta a história de vida de um dos maiores nomes da música mundial. Ray Charles faleceu em 2004 quando o filme que conta sua história estava quase pronto. A citação de sua mãe é por apontar o quanto o que a mãe lhe disse tinha peso na sua forma de pensar e de ver o mundo. Essa influência que Charles recebeu de sua mãe fica expressa em uma frase, mas para ele é muito mais do que isso, sua mãe é a eterna companheira. Em cada parte de sua vida foi acompanhado e encaminhado por aquilo que sua mãe disse e não apenas por uma ou duas frases. Uma frase, duas frases de sua mãe se tornariam vazias ao longo do tempo e poderiam ser interpretadas de qualquer forma, sem compromisso com o real significado do dito.
A questão que levanto através do filme Ray é o quanto conhecemos de alguém para tomarmos o que ele diz como verdade. No caso do mundo acadêmico, ainda mais forte, de retirar de um autor com cinco, seis, sete, dezenas de obras apenas uma frase e dizer: “Com essa frase resumimos o pensamento do autor tal”. Esse resumo é roubar, afanar, retirar do autor tudo aquilo pelo qual ele escreveu suas obras. Provavelmente, isso falo a partir de mim, se você ler esse artigo e tentar resumir, muito do que está escrito se perderá. Mas, se você tentar explicar com suas palavras o que está escrito, dessa forma você se apropria do que está escrito e acrescenta o seu modo. Resumir um autor é como editar de suas obras apenas aquilo que se entende resumir o seu pensamento.
Se tentássemos resumir tudo o que você viveu até aqui em uma frase, o que diria? Diga, pode ser só para você mesmo. Agora, pense um tanto a respeito, veja se não é uma pretensão gigantesca resumir uma vida de trabalho, estudo, relacionamento, conhecimento e outras tantas coisas em algumas poucas palavras. Piorando um pouco mais, imagine agora que você pega essa frase e a coloca na sua sala, para que cada um quando entre veja lá a frase que resume sua vida. Há pessoas, e são muitas, que reduzirão tudo o que você fez a isso, uma frase. Sócrates deve estar se revirando no túmulo quando dizem: “Só sei que nada sei”. Por que ele disse isso? A que se referia?
Dizer uma frase e fazer dela um bordão, um jargão, uma linha que ficará nos anais da história não faz dela o resumo de tudo o que um pensador disse. Imagine que a frase de sua parede seja: “Nasci, vivi e morri por aqueles que amo”. Bom, por essa frase pode-se dizer que tudo o que fez na vida foi pelos outros, mas será que é mesmo isso que quer dizer ou fui eu quem entendeu assim? E muitas vezes o que eu entendo não é o que o autor disse, ele pode ter dito outra coisa, mas eu, por ter visto apenas uma pequena frase, entendi errado.
Conhecer a vida de um autor, ler suas obras, estudar um pouco sobre sua cultura faz com que se possa entender um pouco melhor aquilo que ele disse. Um autor quando escreve, mesmo que uma frase, ele nada quer dizer, ele disse. Por isso resumir o pensamento de um autor no que ele “quis” dizer em apenas uma frase faz com que tudo o que ele disse se torne vão.
Rosemiro A. Sefstrom

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