Encontro Nacional

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quinta-feira, 20 de março de 2014

Corpo ou objeto?

Há no Brasil um fenômeno que começou por Santa Catarina, o leilão da virgindade. Começou porque já há uma segunda candidata ao mesmo ato, uma paulistana que afirma fazer esse sacrifício para ajudar sua mãe. Não há o interesse em lidar com abertura de precedentes, com questões éticas, mas de se ver com outros olhos a abertura de concorrência pública para retirada da virgindade. O interesse em especial na concorrência está na forma como o acontecimento é tratado, pela forma como os próprios veículos de comunicação que abominam, ao mesmo tempo divulgam. O fato é, uma moça, no uso de sua liberdade individual decidiu abrir concorrência pública, ou seja, estimulou a livre concorrência para a venda de seu produto.
Pode ser novidade para muitos o que estão vendo pela televisão, mas não faz muito, uma novela de horário nobre passava uma mãe tratando a virgindade da filha como um produto. Naquela novela a mãe tratava a virgindade da filha como um produto de barganha que deveria ser utilizado para tentar obter um futuro financeiramente garantido. A diferença é que ali estava na novela, inserido num contexto onde a “novela imita a vida”, segundo os próprios autores. A realidade é assim também, realidade em que muitas meninas fazem de si mesmas produtos que são colocados na vitrine esperando um bom comprador. Algumas, que se mantém dentro dos padrões da moda conseguem bons compradores, outras não tem a mesma “felicidade”. Lembrando que a compra dá o entendimento de propriedade, ou seja, aquele que paga pode fazer uso da maneira que lhe aprouver e quando não quiser mais, joga fora.
Para os mais velhos que se espantam com a indecência dessas moças que leiloam a virgindade, pensem num homem antigo que casava. Ela, muitas vezes se mantinha intocada para um grande casamento, na verdade era um péssimo marido. O negócio dela de se manter virgem era para arrumar um bom marido, um homem decente, muitas conseguiam péssimos maridos, ou seja, se manter virgem foi um péssimo negócio. A relação que se está estabelecendo é de negócio, de uma pessoa que tem um produto que muitos querem, simples assim.
O que assusta muitas pessoas é o fato de uma moça ter vindo a público e leiloado sua virgindade, o problema para elas é o público. Segundo muitos isso é uma questão pessoal, mas estes mesmos que apregoam uma moral de certo e errado, de público e privado, assistem o Big Brother e torcem por cenas de sexo ao vivo. Qual seria a diferença entre essa menina que ganhará muito bem pela sua virgindade e aqueles que também ganharam muito bem por transarem ao vivo? Demonizar ou justificar o que está acontecendo seria um tanto arriscado, mas que tal tentar entender?
A relação que cada um estabelece com o que chamamos de corpo é diferente. Para muitos e muitas o corpo não passa de um produto, que pode e deve ser modificado para atender às necessidades e expectativas do mercado. O corpo esse de carne e osso pode ser a menor parte da pessoa e justamente por isso ela não se importa, pode simplesmente vender, leiloar, trocar por uma voltinha de carro, bebidas caras, camarotes e tantas outras coisas. O problema é que algumas pessoas não entendem que produto só tem valor enquanto estiver do agrado do cliente.

Rosemiro A. Sefstrom

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