Encontro Nacional

Encontro Nacional

terça-feira, 18 de março de 2014

Quem é o autor da minha história?

Há um pensador francês chamado Michel Foucault que escreveu a obra “O que é um autor?” em 1969. Nesta obra sua principal preocupação é definir o que seria um autor em suas mais diversas formas. Essa bela obra nos remete à Filosofia Clinica e o uso da história de vida como base para o trabalho terapêutico. Quando uma pessoa nos procura, para caminhar junto com ela como terapeutas precisamos que ela nos conte sua história. Ao contar sua história ela faz referência ao caminho que percorreu, às decisões que tomou, às pessoas com as quais se relacionou, enfim, o enredo da própria vida.
Quando lemos um livro, vemos um filme ou assistimos a uma peça de teatro, há uma pessoa que está por trás daquela história: o autor. O autor é tido em grande parte segundo o próprio Foucault como sendo um gênio, uma pessoa acima da média, alguém do qual emana o jeito certo. É assim para aquela dona de casa que compra na banca o seu livro de auto-ajuda e lê com toda atenção cada palavra que a ensina  como ser feliz. Algum tempo depois, vivendo os mesmos problemas comenta com uma amiga: “O autor é ótimo, só pode que eu estou fazendo alguma coisa errada”.  Esse autor, pessoa desconhecida por ela tem o poder, dado por ela mesma, de significar sua vida e dizer o que ela tem de fazer para ser feliz.
Esta mesma dona de casa esquece que ela mesma já é autora, que já rabiscou algumas páginas. Ela, de certa forma humilde, já escreveu a própria história, decidindo logo cedo por onde sua vida iria caminhar. Quando se casou, resolveu ajudar o marido a escrever a história dele, apontando os melhores caminhos e as melhores maneiras de se trilhar esse caminho. Anos mais tarde veio o filho, que hoje é médico. Antes mesmo de ele nascer ela já tinha escrito a história do filho. Essa dona de casa se tornou a autora da história de vida da família. Se a história é boa ou má, certa ou errada, isso é outra questão.
Ser autor é entender que assim como eu, que algumas vezes escrevo a minha própria história, há também outros autores. Algumas vezes esses autores escrevem suas histórias, outras vezes eles escrevem a minha. Se lhes perguntassem: “Quem escreveu sua história?” provavelmente a resposta seria: “Eu”. Só que se fossemos a fundo na história de vida dessas pessoas veríamos que ao afirmar a autoria de sua própria história deveriam ser condenadas por plágio, como alguém que se apropriou de um texto que não é seu. Pense naquele menino que nasceu em uma tradicional família de militares, logo que chega à idade ele vai empolgado para a escola militar e dali em diante faz a sua vida como militar. Torna-se um bom homem, bom pai, bom marido e ótimo filho. Esta história é bonita, mas e os pais que são péssimos autores? Aqueles que escrevem péssimas histórias para os filhos? Também existem.
Há também pessoas que estão tão acostumadas com outros escrevendo sua história que se tornaram ótimas atrizes, ou seja, são pessoas que atuam na própria história. Não há nada de errado com isso. Se a história que foi escrita é muito melhor do que a pessoa mesma escreveria, por que não? Imagine que seu filho é um péssimo escritor, cada vez que ele tenta sozinho escrever sua história acaba por se dar mal. Pode ser que um pai, uma mãe, uma namorada possam ser os autores que faltavam para uma boa história.
Por fim gostaria de perguntar: “Quem é o autor da sua vida? Ele é um bom autor?” Cuide-se, se a sua história é um drama e você tem a ver com comédia, pode ser que você não seja o autor de sua história.

Rosemiro A. Sefstrom

Nenhum comentário:

Postar um comentário