Encontro Nacional

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sexta-feira, 14 de março de 2014

Retórica e “Fazetórica”

A palavra retórica pode ser encontrada em latim como rhetorica, mas sua origem é grega sendo originária do grego ητορικ τέχνη. Seu significado pode ser traduzido como a arte ou técnica de bem falar. De maneira mais completa, pode-se dizer que a retórica é a arte de usar as palavras para dizer o que se quer de forma eficaz e persuasiva. Esta arte era bem conhecida dos filósofos que discutiam desde o período grego com Sócrates sobre a falsidade do conhecimento ensinado pelos sofistas no uso da retórica. A estes profissionais não interessava a verdade ou falsidade nos seus ensinamentos desde que conseguissem com as palavras derrubar seu oponente.
Nas organizações, na política, nas igrejas não é muito diferente: existem muitas pessoas que fazem uso da arte de bem falar para convencer. Não há para algumas destas pessoas o compromisso com o que dizem, desde que convençam os ouvintes de que suas palavras são verdadeiras. Numa organização, existem muitos que têm teorias e receitas para tudo, que na hora de se posicionar são firmes, convencendo até aos mais experientes, mas é só. Muitas destas pessoas conseguem fazer tudo o que dizem somente nos seus pensamentos, na prática nada disso se concretizará. Não há nada de mais nisso, dependendo do local onde estiverem na empresa, ou seja, se estiverem em setores que precisam de teoria, ideias, divagações, perfeito, o problema é quando são alocadas em setores que precisam da “fazetórica”.
Diferentes daqueles que usam a retórica existem outros que são os ditos da “fazetórica”. Trago este termo de um ditado de um amigo que diz: “É muita retórica e pouca fazetórica”. Neste ditado ele expressa a opinião que não adianta teoria sem prática, como diz na Bíblia, a fé sem obras é morta. Por mais que algumas empresas já tenham adotado sistemas de participação nas melhorias, por mais que aproveitem as ideias de seus colaboradores, o que se precisa deles é a “fazetórica”. Tanto é que cada vez mais se encontram pessoas que trabalhavam na área produtiva da empresa e que, quando promovidas, desenvolvem ansiedade, depressão, síndrome do pânico. São pessoas que têm a prática mas não conseguem transformar a prática física em prática do pensamento. 
Num artigo anterior falei sobre decidir, neste artigo apontei que existe uma diferença entre decidir e fazer. Em Filosofia Clínica atendemos muitas pessoas decididas, com uma retórica perfeita, mas com uma “fazetórica” muito pobre. Em outras palavras, elas vivem nas ideias e não nas sensações. Para pessoas assim, decidir nada tem a ver com colocar em prática. Existem pessoas que padecem muito disso, decidiram e se convenceram via retórica que é hora de começar um regime, mas não conseguem ir às vias de fato. O que elas têm enquanto ideia não se torna prática. Numa organização há lugar para todos, tanto os que são especialistas em retórica quando os que são especialistas em “fazetórica”.
O ideal, digo ideal porque geralmente não é o que acontece, é que se conheça cada pessoa para saber se ela é das ideias ou das práticas. Combinar as qualidades teóricas e práticas pode ser interessante, mas há muitas atividades que só os teóricos poderão acessar, assim como existem atividades que só os práticos terão acesso. Voltando à Bíblia, pode-se citar a passagem de Marta e Maria onde Jesus mesmo aponta para uns a retórica e a outros a “fazetórica”.

Rosemiro A. Sefstrom

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