Encontro Nacional

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segunda-feira, 31 de março de 2014

Entradas e saídas

“Não joga fora não, um dia posso precisar para alguma coisa”. Existem pessoas que juntam tudo o que podem e guardam com a justificativa de que um dia podem precisar. Elas guardam desde pequenos objetos, que realmente podem ter uso até objetos que não terão serventia alguma. Existem casos extremos em que chegam a guardar alimentos, sementes, pedaços de madeira, tecidos, ou qualquer outro objeto. Os objetos que elas juntam ocupam espaços, precisam de um lugar para serem alocados na casa e pela falta de arrumação acabam por servir de esconderijo para insetos, ratos e outras coisas. Por serem objetos velhos, muitos deles sujos, logo começam a criar mofo e espalhar doenças. Quem convive com pessoas assim logo nota que sua “mania” não é saudável e tentam intervir para mostrar os males que podem decorrer disso. Esse procedimento de juntar recebe o nome de adição em Filosofia Clínica, a pessoa soma uma coisa a outras que já existiam naquele local.
Assim como algumas pessoas trazem coisas para casa justificando sua utilidade futura, também existem aqueles que levam coisas pela vida que não precisariam levar. Na casa existe uma quantidade possível de se guardar, tendo em vista o tamanho do local, assim também é com as pessoas. Cada um tem um espaço interno para guardar o que soma pela vida até que tenha de colocar para fora para que outras coisas possam ocupar o lugar. Em alguns o espaço de adição é muito grande, elas levam muito tempo neste processo até que precisem descarregar. Do outro lado existem as pessoas com um espaço para adição muito pequeno e pouco depois de começarem as adições precisam colocar para fora. Tanto os que adicionam pouco quanto os que adicionam muito, cedo ou tarde precisarão arrumar um destino para este conteúdo. Em algumas pessoas o lugar onde o conteúdo será descarregado é o corpo, ele será o receptáculo para o que foi guardado durante um tempo. Outras pessoas descarregam tudo nas suas abstrações e tendem a caminhar em direção às ideias complexas, em outras palavras, desconectar-se do mundo.
A adição é como uma conta matemática qualquer e qualquer conteúdo pode ser somado. Como o ser humano é muito rico em vivências, ele tanto pode somar jóias, dinheiro, como mágoas, ressentimentos, raiva. Algumas pessoas passam pela vida como lixeiras existenciais, vivem com um propósito, coletar e catalogar o que há de ruim em seu caminho. Estas pessoas, de um dia que viveram, guardam o sol que não saiu, a roupa que não secou, a casa que ficou suja, o negócio que não deu certo, a ofensa de um amigo. Vivem como lixeiros existenciais, guardam tudo aquilo que deveria ser jogado fora. Aos poucos adoecem existencialmente, o que não é de estranhar pois guardam rancor, mágoa, ódio, tristeza. Poderiam amanhecer e ver o nascer do sol, sentir o amor da esposa, ver a bondade de um amigo, viver a fé em deus, acumular coisas boas.
Depois de um tempo somando é hora de colocar para fora este conteúdo. Se passou a vida juntando sofrimentos, dores, agonias, maus pensamentos é provável que quando for colocar para fora é isso que saia. Se isto for sair em direção ao corpo pode aparecer como uma úlcera estomacal, afta, dores de cabeça, alergias, e tantas outras coisas ruins. Mas, se passou o tempo juntando coisas boas, amor, alegria, amizade, bons filmes, músicas, quando este conteúdo for em direção ao corpo será uma pele lisa, vitalidade, disposição. Em algumas pessoas o conteúdo é despejado no corpo, em outras pode ser as ideias, o mundo, no que acha de si mesma, etc.
É importante lembrar que algumas pessoas não fazem adição, fazem outros processos para gerenciar seus conteúdos. Aos que fazem a adição, não há nada de errado, mas é preciso prestar um pouco de atenção ao que tem somado nos últimos tempos. Não é de espantar que pessoas que somem coisas ruins e suas vidas não pareçam boas.

Rosemiro A. Sefstrom 

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